sábado, 31 de janeiro de 2015

NÃO SEI – por Roberto Pompeo – 31/01/2015

Às vezes sinto que não sei
Meu lugar neste mundo
Que não sei amar
Que não sei chorar
Às vezes sinto que não sei
O que fazer
Que não sei o caminho
Que a alma deveria seguir
Às vezes sinto que não sei
Viver


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

REVOLTA – Roberto Pompeo – 30/01/2015

É tempo de luta!
Injustiça campeia
O crime se alastra
Desonra permeia
Desgoverno
Desmando
O pranto do povo
Não toca ninguém...

É tempo de luta
Contra o abuso
Contra o descaso
Contra o esbulho
Contra o desdém
Governo corrupto
Leis casuístas
Justiça refém...

Afia a espada
Prepara o escudo
Encilha o cavalo
É tempo de luta
De revolução!
No peito a revolta
Sangue nos olhos
Faca nos dentes
Armas na mão!


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

[VERSOS PARA] INSÔNIA – por Roberto Pompeo – 29/01/2015

Gota na pia
Cachorro lá fora
Buzina lá longe
Mosquito aqui perto
Luz do relógio
Coceira nas costas
Calor nos lençóis
Contas na mesa
Palavras no ouvido
Versos na mente
Pensamentos em círculo
Dor de cabeça
Saco cheio
Sono não chega

Gota
Cachorro
Buzina
Mosquito
Luz
Coceira
Calor
Contas
Palavras
Versos
Pensamentos
Dor
Saco
Sono...


Silêncio

CHUVA 2 – por Roberto Pompeo – 29/01/2015

Chuva vem
Molha o telhado
Molha a tarde no jardim

Os sonhos de quem dorme

Os amores de quem tem

Chuva chove

E venta também

Vento vai
Sopra as cortinas
Sopra as flores do jardim
As respostas pra quem ouve
As perguntas pra quem tem
Vento venta
E chora também

Choro fica
Lava as mágoas
Lava as pedras do jardim
As dores de quem ama
As tristezas de quem tem
Choro chora
E a flauta também

Choro vai
Vento chora
Chuva vem

CONTOS SECOS - SOBRE ASAS SOBRE O ASFALTO – por Roberto Pompeo – 26/11/2014 – 29/01/2015



Saiu de casa numa manhã cinzenta, daquelas em que há uma fina chuva pairando no ar, sem cair. Contra ela não há guarda-chuva possível. Levava capote e chapéu, o que lhe dava aspecto antigo. Com as mãos enfiadas nos bolsos, e os olhos enfiados sob a aba do chapéu, cortava o vento frio imaginando-se uma nau na tempestade.

Em sua percepção, eram cada vez mais frequentes os dias cinzentos. Ou talvez simplesmente não fizesse caso dos dias de sol. Preferia-os assim, pois as pessoas não se preocupavam em parecer felizes. Assumiam de maneira mais natural, quase sem culpa, o seu egoísmo. Era mais fácil fazer o seu trabalho em dias assim.

Logo no início do trajeto avistou uma forma inusitada. Uma asa? Na medida em que se aproximava divisava melhor. Sim, uma asa morta, de um pássaro esmagado sobre o asfalto. Deduziu que pertencera a uma pomba. As pessoas nunca freavam o carro para as pombas, era presumível que saíssem do caminho.

Lembrou do quanto as pessoas são egoístas, a ponto de não frear o carro. As pessoas nascem egoístas. Continuam egoístas durante a sua infância. E se não tiverem sobre elas um árduo trabalho educativo que as faça entender que não são o centro do universo serão adultos egoístas. O trânsito era apenas a continuidade desse processo. Tinha a séria impressão de que a humanidade vinha fracassando na tarefa ultimamente. Não conseguimos mais convencer nossos filhos. Não convencemos ninguém.

Ele não era homem com esse tipo de sensibilidade, mas interpretou a ave esmagada como um mau agouro. Os antigos liam as entranhas dos animais, com frequência aves, para saber os augúrios que os esperavam no campo de batalha. Ele de certa forma lia entranhas e vivia num campo de batalha, para o qual se dirigia naquele momento.

Lia as entranhas das pessoas, da sociedade, da humanidade toda. Travava sua batalha no papel, que permanecia em branco sob os seus cotovelos. Da ponta do seu nariz pingou uma gota de sangue sobre o papel em branco. A gota contava a estória que ele não escrevera. Tirava-o da divagação para a árida realidade do papel em branco. Para a memória do pássaro esmagado.

Propusera-se a escrever sobre o amor. Mas o que sabia ele do amor? Amava todas elas. Isso queria dizer que não sabia o que é o amor? Já lhe haviam dito isso. Mas quando se diz que alguém não sabe o que é amor, parte-se do pressuposto de que existe uma forma correta de amar. Qual é então essa forma? Quem a define? Há um arquétipo ou é definido pela moral temporal, pelos padrões culturais?

Simplesmente não conseguia encaixotar o amor nos moldes que havia, não gostava das fórmulas que lhe haviam disponibilizado ou imposto. Uma casa, uma esposa dedicada ou um marido servil, crianças correndo ruidosamente à sua volta. Todos felizes. Vizinhos simpáticos e sorridentes que cobiçavam secretamente sua mulher. Colegas de trabalho prestativos que cobiçavam secretamente seu cargo. Um chefe exigente disciplinador, com metade da sua idade e provavelmente metade dos seus neurônios que cobiçava secretamente alguma coisa.

Não, aqueles padrões não lhe serviam. Mas não podia escrever isso. Salvo pela gota de sangue que secava sobre a folha, perdia a batalha para o papel em branco. Talvez fosse melhor escrever sobre chuva fina e sobre asas esmagadas sobre o asfalto. Afinal, não sabia o que era o amor.


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

PERNAS – Roberto Pompeo – 06/11/2014

Olhou para aquelas pernas

Caminhando à sua frente

Dentro da saia muito curta

Sobre os longos saltos

Acelerou o passo para alcançá-la

E disparou:
“você ficou ótima com esse cabelo curto!”