terça-feira, 6 de novembro de 2012

REFLEXÕES DE UM ALMOÇO TARDIO NUMA TARDE NUBLADA DE PRIMAVERA – por Roberto Pompeo – 06/11/2012


Na sociedade do descartável, consumimos com a voracidade das feras que desconhecem o porvir.
Não mais se trata da velha questão do ter sobre o ser, o ter venceu, por mais que os homens de boa vontade relutem em aceitá-lo.
Mas antes que pudesse desfrutar os louros da vitoria, foi também o ter sobrepujado, rápidas que estão as coisas, pelo ato. O simples ato de consumir, mais que efêmero, desprovido de objetivo, alheio ao ter e desconectado absolutamente do ser.
E junto com o consumir vem necessariamente o descartar. Acostumamo-nos a descartar, transpondo o ato para a vida, para os sentimentos, para as pessoas...
Quando não as compreendemos, as descartamos.
Quantas pessoas já descartamos na vida?
Talvez seja o momento de refinar e purificar o sentimento de confiança e descobrir até onde podemos ir sem julgar!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

ESPERA – Roberto Pompeo - 09/10/2012


E assim passamos a vida, a esperar...
às vezes com esperança, às vezes com parcimônia,
às vezes com letárgica indiferença.
Esperamos pelo futuro, real ou imaginado,
que de inopino e sem que percebamos se torna passado.
Do passado, esperamos que retorne, ou que seja esquecido...
Esperamos por quem somos, por quem fomos,
por quem gostaríamos de ser.
Das pessoas, esperamos que sejam um pouco diferentes do que são,
o que jamais acontece.
Da vida, esperamos uma doçura escondida.
E assim passamos a vida, a esperar...
pelo ônibus, pelo bonde, pelo trem noturno que nunca chega,
pois naquela estação não param trens noturnos.
Do trem, esperamos que nos leve para bem longe,
onde possamos esperar mais um pouco.
Esperamos que as janelas azuis se tornem vermelhas.
Esperamos que as esperanças se tornem realidade,
Que a realidade se torne fantástica,
Que a fantasia termine em festa,
E que a festa seja a vida.
E assim, entre esperas e esperanças,
Passamos a vida a esperar...

domingo, 26 de agosto de 2012

CRÔNICAS FACEBOOKIANAS – EU PREFIRO – por Roberto Pompeo – 26/08/2012


Eu não prefiro nada!
Cansa ter que sempre preferir alguma coisa. As redes sociais são terreno fértil para as opiniões formadas e formatadas, em quadros com palavras prontas, com soluções fáceis como: seja feliz!
Os estados de espírito já vêm prontos, basta clicar no que for mais parecido com o que você estiver sentindo e compartilhar, que ele passa a ser o “seu” estado de espírito.
Filosofia enlatada, então, é a especialidade da casa. Sem falar no “roubo” de direitos autorais às avessas. No mundo antigo, de antes das redes sociais, algumas pessoas tomavam como suas as palavras de outrem. Hoje em dia, escreve-se qualquer bobagem e se coloca o nome de algum autor famoso para dar mais possibilidades àquelas palavras de se multiplicar pelo mundo virtual. Luis Fernando Veríssimo e Caio Fernando Abreu, dentre outros, que o digam. Mas clássicos como Vitor Hugo e Fernando Pessoa também não estão livres.
Os compêndios de toda a sabedoria humana estão muito bem distribuídos no facebook, onde parece fácil ser feliz e funciona! É só ver como as pessoas estão sempre felizes ali.
Que cada um tenha o direito de sentir o que quiser, quando quiser.
Que cada um tenha o direito de insistir nos mesmos erros, até que decida que quer novos erros!
Que cada um possa descobrir o seu valor, ainda que esse valor não sirva para os padrões.
Há pessoas que querem brilhar, outras querem sumir, outras simplesmente viver a vida. Tudo serve. Você pode ser você, ou você pode ser outra pessoa criada para um propósito específico, e que ao final acaba sendo também você. Mude. Permaneça. Mude de novo. Dizem que é preciso coragem para mudar, mas também é preciso para permanecer. Para evitar ter que ter coragem, faça o contrário. Ou não faça nada.
Bom domingo!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

CRÔNICAS FACEBOOKIANAS – ACEITAÇÃO – por Roberto Pompeo – 11/07/2012



Tenho, há alguns dias, recitado todas as manhãs um pedido, quase uma oração "que hoje eu tenha aquilo que merecer".


A bem da verdade, esta é uma lei universal e irrevogável da natureza e da vida: sempre recebemos aquilo que merecemos, querendo ou não!
Portanto, a frase, mais do que de desejo ou pedido, retrata a humilde condição de aceitação. Não aquela aceitação passiva e cômoda que serve de pretexto à inércia, à futilidade, à omissão. Não aquela aceitação cúmplice, de quem assiste ao erro, ao torto, ao crime, à corrupção, e simplesmente abaixa a cabeça e silencia. Não aquela aceitação fatídica, que assume estar tudo escrito de forma imutável nas páginas do destino. Não essa aceitação!
Mas sim aquela aceitação singela de quem reconhece haver algo mais. Aquela aceitação que surge quando, depois de todos os esforços humanamente possíveis, depois de haver realizado diligentemente todos os mais árduos trabalhos, superado as mais difíceis provas, depois de haver bradado aos ventos e de peito aberto esmurrado em vão a tempestade, depois de haver travado batalhas contra os elementos e afrontado a Deus. Aquela aceitação de quem, nesse momento extremo, cai sobre os joelhos e se dobra ante sua condição humana. A aceitação de quem reconhece o superior e a ele se une, para agora lutar a favor da vida e não contra ela... Para ser, não mais o guerreiro fatigado que já não distingue, no campo de batalha, as cores da sua bandeira, que já não reconhece seus companheiros, que apenas luta, contra tudo e contra todos sem nem sequer saber por quê. E se torna um amante da vida, de natureza fluida e alma leve, que passa pela vida como a vida passa por ele, deixando atrás de si apenas um flébil aroma que mal indica que ele um dia viveu, mas que sutil e anonimamente vai inspirar muitas pessoas a simplesmente serem melhores!




Meus amigos, a aceitação é libertadora, abre os caminhos, deixando nos seus bordos os pesos que insistimos em carregar, deixando para trás as mágoas e arrependimentos, permitindo reconhecer os erros do passado sem apego, de modo a poder caminhar adiante, rumo ao horizonte, ao Sol poente e para além dele, em direção às estrelas e ao Universo profundo.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

CRÔNICAS FACEBOOKIANAS – LIBERDADE – por Roberto Pompeo – 18/04/2012






Tem ganhado certo destaque na pauta a não tão nova discussão sobre liberdade de pensamento e liberdade de expressão. Tenho observado, distante, os argumentos e contra-argumentos elaborados em às vezes novas abordagens de um tema velho.
Vejo muitos desses argumentos se encaminhando para uma orientação limitadora desse direito tão básico quanto utópico. Vejo também um atrelamento, sobre cuja pertinência tenho cá minhas dúvidas, entre esses dois direitos. Como premissa básica, penso que uma coisa é a liberdade de pensamento, que pode ser tolhida de várias formas geralmente não jurídicas (controle do pensamento) e outra é a liberdade de expressão desse pensamento, que também pode ser tolhida de várias formas, inclusive jurídicas.

Não pode uma lei proibir alguém de pensar ou de pensar o que quiser. Mas é possível induzir o pensamento, ocupando a mente humana com ideias pré-concebidas advindas de doutrinas, filosofias, religiões ou mesmo com bobagens que pouca ou nenhuma utilidade têm para a evolução da humanidade ou mesmo do indivíduo. Aqui, vão alegar os gurus de plantão que sempre haverá a liberdade de querer ou não aceitar tais induções. Formalmente não estão errados, mas materialmente sim, pois substituem pensamentos espontâneos por outros que arbitrariamente lhes parecem mais corretos ou muitas vezes lhes parecem os únicos corretos. Formam assim exércitos de “robôs” repetidores de frases e ideias implantadas que nem sempre sequer entendem o que repetem.
Quando passamos à esfera da expressão das ideias, a coisa se torna um pouco mais palpável e aí já encontramos muitos limitadores, que vão desde uma repressão hierárquica, passando pela social, chegando à jurídica e até física. Certos temas são “proibidos” em determinados círculos por parecerem politicamente incorretos e receberem como sanção o desprezo dos superiores ou do grupo, seguido de isolamento induzindo o afastamento. Quando se trata da sociedade em geral, limitações legais vão-se impondo na forma de sanções civis e até penais. Você pode dizer o que quiser mas sofrerá as consequências.

Poderíamos defender apaixonadamente a liberdade de expressão ou a sua supressão. Mas, ao que parece, não se trata disso. O cerne da questão é sopesar o que se ganha e o que se perde ao se permitir uma absoluta divulgação de pensamentos e informações. O que e quem pode sair prejudicado pela liberdade alheia. O que estaremos defendendo e quem estaremos protegendo ao calar vozes e ao inebriar pensamentos, ao lançar inteligências num abismo de ignorância e ao amolecer as consciências com o ópio das doutrinas, sejam as seculares sejam as pseudo-espirituais. Não seria mais salutar permitir que se estabeleça a discordância e o debate? Não seria melhor defender uma postura do que escondê-la? Fica o questionamento para reflexão, já que o tema é extenso e polêmico.
Eu, por mim, tomo emprestadas as palavras de Arrigo Barnabé: “Quem cala consente, eu não calo. Quem cala consente, eu desacato!”

sexta-feira, 13 de abril de 2012

CRÔNICAS FACEBOOKIANAS JANELAS – por Roberto Pompeo – 13/04/2012 – sexta-feira


Gosto de janelas.
Apesar de não passarem de buracos na parede, às vezes protegidos por vidros ou por venezianas, ou até por grades, elas dão a sensação paradoxal de fuga, de liberdade, até mesmo de proteção.
Através de uma janela podemos observar a vida passar, o mundo se movimentar, quase como se, expectadores alheios, não vivêssemos essa vida, como não fôssemos parte desse mundo. O que acontece do outro lado de uma janela tem algo de fantástico, como assistir ao sonho de uma outra pessoa, num filme preto e branco e sem som. Até que de inopino algo nos arrebata desse devaneio, puxando-nos por um fio de prata de volta à realidade de dentro da janela. Uma realidade em cores, uma realidade com som. Mas incrivelmente isso não a torna melhor – nem pior talvez – do que o sonho do outro lado da janela.
A realidade consegue por vezes ser mais inusitada do que o sonho. A vida cria enredos que o mais inspirado dos artistas talvez não conseguisse conceber. Ela nos compele a lidar com situações que jamais sequer cogitaríamos em pensamento. Ela nos propõe dilemas de aparência irresolúvel entre o orgulho e a aceitação, entre o desejo e a paciência, entre o tempo e o amor.
Nesses momentos, precisamos buscar uma janela e olhar nossa vida através dela, como fosse a vida de alguém. Precisamos do necessário afastamento de nós mesmos para avaliar o que há de real e o que há de fantástico naquilo que vemos através da janela da nossa alma.
As janelas possuem a grande virtude de deixar entrar o sol mas barrar a chuva, de deixar passar o calor mas conter o frio, de dar passo à luz mas permitir enxergar ao longe, a pelo menos um vidro de distância, a escuridão.
E então, de pé escorados na esquadria, ou sentados numa Berger de estampa antiga, ou deitados num trapézio de luar projetado no chão, sorveremos ledos o vinho de sabor inefável, mal contendo um sorriso sincero para o movimento da vida!

terça-feira, 10 de abril de 2012

CRÔNICAS FACEBOOKIANAS – VALE QUANTO PESA – por Roberto Pompeo – 10/04/2012


Hoje no mundo muitas pessoas, mas muitas mesmo, prezam valores que são muito importantes tais como a beleza, a fama, a riqueza material. Considerar alguém bem sucedido passa necessariamente por alguns ou por todos esses referenciais. As pessoas se interessam por saber que carro você tem ou se passa as férias no exterior. E associam esses fatos à sua capacidade ou até mesmo ao seu caráter.
Dependendo da profissão que você exerça, esses quesitos passam a ter um peso ainda maior, a ponto de se relacionar a ausência deles com incompetência ou falta de denodo.
Conheço muitas pessoas que utilizam critérios como esses para avaliar seus relacionamentos, desde amizades até um namoro ou casamento. Há algum tempo o ter se tornou mais importante do que o ser, apesar dos discursos politicamente corretos, que mais parecem uma revoada de palavras dissociadas das atitudes. Essas pessoas não estão erradas pelos padrões de hoje.
Mas serão esses critérios os únicos? Serão os melhores?
Você consegue listar as cinco pessoas mais ricas do mundo? Talvez não sem alguma dificuldade. Mas certamente se lembra de cinco pessoas com quem você passou momentos marcantes e agradáveis, de verdadeira amizade.



Você se lembra quem foram as últimas três vencedoras do concurso de miss universo ou mesmo de miss brasil? Mas se lembra de três pessoas que o ajudaram em momentos difíceis da sua vida. E nesses momentos você pouco se importou se elas eram feias ou bonitas...
Você se lembra dos vencedores do prêmio Nobel ou do Oscar nos últimos cinco anos? Mas você consegue se lembrar de cinco professores que marcaram sua educação sua formação ao longo da vida. 




Ou de quem o ensinou a andar de bicicleta.



São as pessoas que estão mesmo do nosso lado nos momentos em que realmente precisamos que marcam! Dessas nos lembraremos!
Ao fim e ao cabo, o que pesa mais? O que vale mais?
E você?! Que tipo de pessoa você quer ser para os outros?
A decisão é sua!
Você pode marcar seu nome numa lista top 10 de uma revista qualquer na sala de espera de um consultório, que quando um dia for lida, vai assinalar a beleza ida, o dinheiro que já mudou de mãos ou o prêmio antigo e empoeirado por uma conquista já superada.
Ou você pode gravar seu nome nas doces memórias daqueles que você ajudou, e o seu olhar no coração de quem sentiu a sinceridade das suas palavras e a força dos seus gestos.

Como disse, a decisão é sua!

terça-feira, 3 de abril de 2012

SORRISO – por Roberto Pompeo – 03/04/2012





Há gestos que são simples. Talvez o mais simples de todos seja o sorriso que sai espontâneo dos lábios de uma criança. É a manifestação de um sentimento de benevolência ou de simpatia. Na medida em crescemos, essa manifestação singela ganha mais um aspecto que poderíamos chamar de “artificial”, eis que ausente na criança, que é a ironia ou a malevolência. O sorriso ganha outros contornos, como nos filmes, quando o vilão solta sua gargalhada maligna.
Mas dizem, com razão, que sorrir é um remédio para a alma. E se para muitos é um remédio que flui de maneira natural, para muitos outros exige esforço, treino. Primeiro, é importante querer sorrir, por mais que isso custe, até por que logo perceberemos que nem custa tanto assim. E depois executar o sorriso, pelo menos uma vez por dia no início, aumentando a dosagem semanalmente, até conseguir resgatar aquele sorriso da infância como uma constante em nossos dias.
Agora, talvez o grande segredo da magia do sorriso seja utilizá-lo quando é mais improvável, diante das provas da vida, diante da maldade alheia, diante das situações que normalmente nos fariam chorar. Mas não se trata aqui do sorriso irônico ou dissimulador, mas do sorriso verdadeiro, que vem da alma e transparece no semblante. Quando conseguirmos sorrir dessa maneira, talvez nesse momento, consigamos nos aproximar um pouco mais de nós mesmos e assim nos aproximar um pouco mais de Deus!
Sorria! Você fará melhor o dia de alguém e o seu dia.