Tenho, há alguns dias, recitado todas as manhãs um pedido,
quase uma oração "que hoje eu tenha aquilo que merecer".
A bem da verdade, esta é uma lei universal e irrevogável da
natureza e da vida: sempre recebemos aquilo que merecemos, querendo ou não!
Portanto, a frase, mais do que de desejo ou pedido, retrata
a humilde condição de aceitação. Não aquela aceitação passiva e cômoda que
serve de pretexto à inércia, à futilidade, à omissão. Não aquela aceitação
cúmplice, de quem assiste ao erro, ao torto, ao crime, à corrupção, e simplesmente
abaixa a cabeça e silencia. Não aquela aceitação fatídica, que assume estar
tudo escrito de forma imutável nas páginas do destino. Não essa aceitação!
Mas sim aquela aceitação singela de quem reconhece haver
algo mais. Aquela aceitação que surge quando, depois de todos os esforços
humanamente possíveis, depois de haver realizado diligentemente todos os mais
árduos trabalhos, superado as mais difíceis provas, depois de haver bradado aos
ventos e de peito aberto esmurrado em vão a tempestade, depois de haver travado
batalhas contra os elementos e afrontado a Deus. Aquela aceitação de quem, nesse momento extremo,
cai sobre os joelhos e se dobra ante sua condição humana. A aceitação de quem
reconhece o superior e a ele se une, para agora lutar a favor da vida e não
contra ela... Para ser, não mais o guerreiro fatigado que já não distingue, no
campo de batalha, as cores da sua bandeira, que já não reconhece seus
companheiros, que apenas luta, contra tudo e contra todos sem nem sequer saber
por quê. E se torna um amante da vida, de natureza fluida e alma leve, que
passa pela vida como a vida passa por ele, deixando atrás de si apenas um flébil
aroma que mal indica que ele um dia viveu, mas que sutil e anonimamente vai
inspirar muitas pessoas a simplesmente serem melhores!
Meus amigos, a aceitação é libertadora, abre os caminhos,
deixando nos seus bordos os pesos que insistimos em carregar, deixando para
trás as mágoas e arrependimentos, permitindo reconhecer os erros do passado sem
apego, de modo a poder caminhar adiante, rumo ao horizonte, ao Sol poente e para além
dele, em direção às estrelas e ao Universo profundo.