segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

AUTOPOEMA OU CAMINHADA NOTURNA POR UM PORTO SEM NAVIOS


O que de mim se esconde de mim
Quem sou este que desconheço
Por que caminhos me perco
Da senda sem fim
Qual o segredo evidente que não vejo?

Entre quais mistérios vagueia meu espírito
Sem que no entanto logre percebê-los
De quem é o rosto que se desfaz ante meus olhos
Quando procuro uma paisagem na janela
E só o que encontro é um reflexo no espelho?

Lá fora a lua anuncia o infinito
Deixando um flébil rastro sobre o mar
Por entre nuvens dissimula sua face
Como uma órfã que esconde a sua dor
Ou como um velho que suporta o seu cansaço

Enquanto as horas cantam lentas seu torpor
E o amor desfaz-se em gotas mudas pelas docas,
Naquele porto adormecido sem navios
Se desvanecem os fantasmas do passado
Trazendo o sol a nova luz em seu regaço!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

VERSOS PARA CÉLIA – Roberto Pompeo – 16/02/2014

Certa vez conheci uma garota
Que tinha as raízes presas no vento
Cortava os ares como folha solta
E, ainda assim, tinha raízes!

Podia parecer
Que a nada se prendesse
Mas plantava as raízes
Às coisas dela,
Coisas de quem
Tem raízes no vento.

E assim, de vento em brisa,
E de brisa em pé-de-vento
Andou terras distantes, sem desalento,
Sempre mudando, sempre voando,
Sempre vivendo cada momento.



TIRANIA – por Roberto Pompeo – 16/02/2014

O sabre desafia,
Nas mãos do tirano,
Sobre o pescoço do incauto,
A consciência desperta

Tolhendo-lhe a voz
Minguando a vontade
Suprimindo as ideias
De um mundo melhor

O corpo torcido
A alma acanhada
Teimoso suporta

Sofre calado,
As dores atrozes,
Mas nada delata!


SERÁ – Roberto Pompeo – 28/02/2014

Será possível, ao mesmo tempo,
servir a dois senhores,
cumprir duas promessas,
montar em dois camelos,
estar em dois lugares?

Será possível, ao mesmo tempo,
rezar para dois credos,
pisar em dois planetas,
andar em dois sentidos,
assobiar duas canções?

Será possível, ao mesmo tempo,
falar duas palavras,
entrar por duas portas,
achar justa medida
entre o que foi e o que virá?

Será possível ser feliz assim,
Será?



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

EMOÇÃO – Roberto Pompeo – 14/02/2014

Quando falta emoção
Não adianta inventar
Não adianta fingir
Não adianta chorar
A gente pode ir, pode vir

Mas o bonde nem sai da estação.